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segunda-feira, dezembro 24, 2012

"O Sexo dos Anjos" - Cap. 4

Capítulo  1 - Conjuratio
Capítulo  2 - Tons e Cores
Capítulo  3 - Cherchez la femme

Capítulo 4 - Deuses primordiais


Naquilo que parecia ser um antigo palácio grego em ruínas, 4 vultos agitados sussurravam com estranha intensidade.
Uma enorme lua alaranjada iluminava a cena, ressaltando a beleza dos corpos envoltos por mantos de seda branca.
-      -  Não temos mais poder sobre os humanos, Tártarus ... nenhum poder ! – a tristeza parecia transbordar em densas ondas dos olhos negros de Khaos.
-       - Não seja otimista, K... o fato é que não temos mais poder nenhum sobre nada.  A prova disso é que Gaia já está ficando com pés-de-galinha. – Tártarus jamais perdoara Gaia por havê-lo trocado por Uranus.
-       -  Rugas de expressão, Abyss querido ... – Gaia sabia que Tártarus detestava esse apelido – Ao contrário de você, eu me preocupo...
-       - Estamos “preocupados” há séculos ! – o rouco sussurro de Khaos fez tremerem as deterioradas colunas do palácio – E, enquanto isso, aquele embusteiro sem nome e cercado de passarinhos faz o que bem entende.
-      -  Anjos, Khaos, anjos ... e você não pode negar que são bonitinhos ... – Eros era incapaz de odiar quem quer que fosse – Eu ando pensando seriamente em adotar um par de asas ... você acha que ficaria bem com elas, Gaia ?
-       Você ficaria lindo até coberto de espinhos, Eros ... – Gaia sorriu, carinhosamente - ... e, lembre-se de que fui em que desenhei os pássaros.
-      -  Linda criatura e criadora apaixonada .... – Eros suspirou.
-       - Vamos parar com esse lambe-lambe ?!  Eu mandaria os dois para as profundezas dos meus domínios, se o embusteiro não tivesse entregue tudo para aquele chifrudo ridículo. - os dentes pontudos de Tártarus assustavam até mesmo os deuses primordiais.
Eros parecia particularmente relaxado naquela noite.  Acompanhava os rompantes de irritação de Khaos e Tártarus com um sorriso maroto, como se soubesse de algo e estivesse saboreando o momento antes de contar.
-       - Eu tenho boas notícias para vocês, irmãos de infortúnio.  Mas, primeiro, uma pergunta .... Lembram-se de como perdemos o poder ? – Eros decidira, finalmente, compartilhar as novidades.
-       Não estou afins de lavar roupa suja de novo, Eros ... Já discutimos esse assunto exaustivamente nos últimos dois mil anos.  Abusamos, fomos descuidados e, por fim, delegamos demais.  Você bem nos avisou de que não seria uma boa ideia deixar tudo nas mãos de Zeus e sua equipe de jovens talentos.  Aquele bando de exibicionistas egocêntricos acabou complicando tudo e os humanos perderam a fé.   Presa fácil para o primeiro embusteiro que aparecesse. – Khaos sempre se referia ao novato como embusteiro.
-       - Esse é o ponto chave, Khaos ... perderam a fé.  E o poder dos deuses é alimentado exclusivamente pela fé humana.  Sem ela não somos nada.  E você lembra de nossos bons tempos ?  Lembra como foi que conquistamos a fé dos humanos ?
-       - Está querendo confete, Eros ? – Tártarus destilava seu mau-humor habitual.
-       Não, Tártarus ... quero lembrar que conquistamos a fé dos humanos através do amor.  Gaia concebia as criaturas a partir da energia de Khaos, e eu inspirava o amor universal, o ágape.  E você, Tártarus, ia corrigindo nossos erros, banindo as criaturas que causavam a desarmonia.
-       Ah.... que mundo lindo, aquele ... – foi a vez de Gaia suspirar, enlevada pela memória dos tempos do paraíso.
-       E daí, Eros ?  Estamos cansados de saber disso. – os cabelos negros de Khaos esvoaçavam quando estava impaciente.
-       - E daí que o amor é a peça chave para a conquista e manutenção da fé.  Foi por isso que a equipe do Panteon se deu mal.  Zeus não amava ninguém, os outros deuses só queriam saber de tributos e aquele moleque, o filho da Afrodite que usava o meu nome, gostava mesmo é de uma boa suruba.
-       Se arrependimento matasse ....  – Tártaro ruminou.
-       Não mata, mas pode salvar .... hahaha ... – Eros não conseguiu evitar a piada sobre o discurso dos seguidores do novato.
-       - Eros, Eros ... – Gaia adorava deuses com bom humor.
-       - O fato é que esse novo deus aprendeu com nossos erros e vem mantendo seu poder centralizado, cuidando de tudo pessoalmente.  Mas isso é desgastante e, pelo que ouvi dizer, ele anda de péssimo humor não é de hoje.  Há tempos que não visita as criaturas que herdou de Gaia e nem manda um representante de peso para visita-las.  E não há ninguém encarregado de inspirar o amor por lá.  Está todo mundo sobrecarregado tentando cumprir ordens e manter o controle.  O resultado prático disso é que seu modelo centralizador e autoritário deixou-o completamente desconectado das bases.  Sem planejar, ele delegou a manutenção da fé aos próprios humanos.
-       Hummmm .. vejam só que interessante ... – Tártarus sorria pela primeira vez em séculos.
-       - Resumindo, meus queridos, temos uma boa oportunidade para retomar o que nos pertence ! – os olhos azuis de Eros encontraram os verdes de Gaia e uma onda de energia nasceu dos dois, envolvendo Khaos e Tártarus.
––––––– ∞ –––––––

Bianca, sonolenta, abriu a porta do quarto para Sheila.
Eram 8h00 da manhã e ela havia passado boa parte da noite dedicada à leitura do livro.
Sheila, ao contrário, havia acordado cedo, ansiosa para conversar com a amiga.
-       E então, Bi ?  Leu ?
-       Uahhhh – Bianca não conseguiu segurar o bocejo – Lí sim ...
-       - E o que sentiu ?
-      -  Olha ... o livro não é lá essas coisas ...
-       - Isso até eu, que não sou tão exigente, sei bem .... Mas quero saber o que foi que você sentiu ...

Sheila tomou as mãos de Bianca e a levou até a cama.   As duas se sentaram frente a frente, de pernas cruzadas sobre o colchão.
-       Me conta, Bi .. mas seja sincera.  É muito importante !  Preciso saber o que você sentiu ...

2 comentários:

Ernesto Dias Jr. disse...

Excelente! Nada como um pouco de antagonismo para dar sabor à trama. Engraçado como a coisa caminha para uma síntese de Pecado e Capital com Os Ovos do Dragão. Apesar do telefone de Maria Celeste estar caindo na secretária eletrônica durante o feriado, sou capaz de mudar de ideia e avançar mais um pouquinho...

Anônimo disse...

será que vou ter que ler esse 50 tons?
udi